28 dezembro 2008

Fim de ano: Eis uma coisa a se pensar...





Renascer
(Frei Betto)

Finda o ano mas não a vida. Para quem recebe salários extras e dispõe de condições, paira o risco da voracidade: ceias pantagruélicas, muita cerveja na praia, o churrasco crepitando no quintal, uma tristeza d'alma quando o corpo entorpece atolado em comidas, como se o lazer se reduzisse a um exercício compulsivo de ingestão e congestão.

Como somos exaustivamente iguais! Nesta virada do ano vamos pilotar transbordantes carrinhos de supermercado, assistir na TV à retrospectiva dos últimos doze meses, tostar a pele junto ao mar ou à beira da piscina, e acompanhar a afoita alegria dos que foram escolhidos para ministros e secretários de Estado, enquanto os preteridos se esforçarão para disfarçar seus ressentimentos.
Trafegamos sobre o fio da navalha. De um lado, a qualidade total que, niponicamente, pretende ensinar-nos a trabalhar mais por menos, como se devêssemos acompanhar o ritmo do avanço da tecnologia de ponta. De seres humanos somos gentilmente reduzidos a peças de engrenagem. Já não se trata apenas de vestir a camisa da empresa, mas de nascer com a pele tatuada com o seu logotipo.

De outro, a resistência a tanta pressão consumista, na busca de alternativas para uma melhor qualidade de vida. Uma alimentação sadia, exercícios aeróbios, ler os clássicos, praticar a meditação, livrar-se de toda tentação de ostentar bens e participar de alguma causa humanitária. Enquanto o sistema nos puxa pelo lado de fora - modas, status, funções de poder etc. - algo mais profundo em nós mesmos nos induz ao lado de dentro: resgatar a capacidade de amar, reaprender a ternura, fitar o semelhante em sua suprema dignidade humana.

Ao contrário dos orientais, somos uma civilização ruidosa. Falamos em cascata, passamos horas ao telefone (executivo é um celular no qual um homem se dependura pela orelha), mantemos ligados a TV, o rádio, o som, como se, perante o silêncio, temêssemos mirar a própria face interior. Claro, o mercado não oferece silêncio porque haveria queda de consumo. Malha-se o corpo, mas não o espírito.

No entanto, a vida ensina que a felicidade jorra da intimidade. Não há outra fonte. Pode haver prazer na apropriação, alegria no encontro, júbilo numa boa surpresa. Porém, felicidade, como profundo deleite do espírito, só na intimidade amorosa, na oração sem imagens e palavras, na contemplação do belo, no acolhimento do ser querido, na entrega ao mistério, na eternização subjetiva de um momento, na poesia de um toque, um gesto, uma palavra que traz em si plenitude. Ausência de desejos; tão só deixar-se sorver pelo esplendor de uma paz que ora vem como brisa suave, ora sopra como vento forte e assustador.

Tivéssemos um pouco mais de sabedoria, faríamos do reveillon um balanço pessoal, contração e descontração, sístole e diástole, na alegria do novo ano que irrompe e dos novos homens e mulheres que se propõem a não sonegar sentimentos, não blefar com o próximo, não discriminar subalternos, não se omitir da solidariedade às causas sociais. Quem sabe trocar a festa pela visita às vítimas da Aids, o champanhe por uma cesta básica à família da faxineira, os fogos de artifício por uma prece em família. Por que seguir os modelitos padronizados pela mídia hedonista, se isso não nos enriquece como seres humanos?

No dia 1º, entre tantos discursos de posse, tome posse de si mesmo. Para nascer de novo, como disse Jesus a Nicodemos, não é preciso retornar ao ventre materno. Basta dar ouvidos à própria intuição, agir com humildade e sintonizar-se com o Transcendente. Na radical disposição de, daqui pra frente, não se deixar consumir como um mingau comido pelas bordas.

Fim de ano é epoca de festas, presentes, comemorações...e isso tudo é muito bom, mas não é tudo. QUE NESTE FIM DE ANO E NESTE NOVO ANO DE 2009, A GENTE REPENSE NOSSOS VALORES, QUE A GENTE DÊ ATENÇÃO AS PESSOAS E NÃO AS COISAS, QUE A GENTE NÃO SE PERCA NESTE MUNDO MALUCO DE VALORES INVERTIDOS QUE VIVEMOS, QUE A GENTE SE DOE MAIS...PORQUE É A DOAÇÃO E A CARIDADE QUE NOS FAZ GENTE!!!

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